Pode ser que você nunca tenha ouvido falar da Randoncorp, mas com certeza já cruzou com ela sem perceber. A empresa gaúcha, fundada em Caxias do Sul, é uma das maiores do Brasil no setor automotivo e de transporte. Ela fabrica implementos rodoviários (como carretas e semirreboques), autopeças, soluções de financiamento e consórcio, além de atuar em tecnologia e serviços de mobilidade.
Sabe aquele caminhão que você vê na estrada puxando grãos, combustível ou produtos industriais? É bem provável que ele esteja rodando com algum componente ou implemento da Randon. Até os freios e sistemas de suspensão de ônibus e caminhões que circulam pelas cidades podem ser dela. Ou seja: mesmo sem ter um “carro da Randon” na sua garagem, a empresa está presente no transporte de tudo que chega até você — da comida no supermercado ao pacote que você recebe em casa.
Essa gigante discreta está listada na Bolsa de Valores (ações RAPT3 e RAPT4) e tem expandido sua atuação para fora do Brasil, especialmente na América do Sul, EUA e Europa. Mas afinal, como anda a saúde financeira da companhia em 2025?
A Randoncorp começou 2025 com intensidade. O primeiro semestre foi marcado por expansão internacional, aquisições estratégicas e bons números de receita, mas também por uma carga pesada de dívidas, margens comprimidas e um lucro que patina.
Se fosse uma viagem de caminhão pela serra gaúcha — berço da companhia —, poderíamos dizer que o motor está forte, mas o veículo carrega um peso extra. O desafio agora é manter a subida sem deixar o motor esquentar demais.
Vamos mergulhar nos números, entender de onde vêm as vitórias e onde moram as preocupações.
📊 Receita: o velocímetro no azul
A receita líquida consolidada foi o ponto mais positivo. A empresa faturou R$ 3,19 bilhões no 1T25, alta de 25,8% sobre o mesmo período de 2024. No 2T25, manteve o ritmo com R$ 3,35 bilhões, crescendo 21,9% ano contra ano.
Esse avanço tem explicação:
- Aquisições de empresas como Dacomsa, Delta e AXN, que trouxeram novas linhas de receita;
- Maior participação do mercado externo, que dobrou sua relevância;
- Demanda firme no setor de reposição de peças, tanto no Brasil quanto fora.
👉 É como uma empresa que abriu novas filiais em outros países e viu mais clientes entrando na loja.
Receita Líquida (R$ bi) | 1T24 | 1T25 | 2T25 |
---|---|---|---|
Receita | 2,54 | 3,19 | 3,35 |
Crescimento YoY | – | +25,8% 🚀 | +21,9% 🚀 |
💰 Lucro: freada brusca no caminho
Apesar da receita acelerada, o lucro líquido decepcionou.
- No 1T25, a companhia registrou prejuízo de R$ 7,7 milhões.
- Já no 2T25, voltou ao azul, com R$ 62,4 milhões, mas ainda bem abaixo do ritmo do ano passado.
Causas do tropeço:
- Despesas não recorrentes ligadas às aquisições (ex.: earn-out da Hercules, amortizações de mais-valia);
- Endividamento elevado, que fez os gastos com juros subirem;
- Custos extras com sistemas de gestão (ERP), que reduziram produtividade em algumas fábricas.
👉 É como se a empresa tivesse gastado mais com pedágios, manutenção e financiamentos, mesmo transportando mais carga.
Lucro Líquido (R$ mi) | 1T24 | 1T25 | 2T25 |
---|---|---|---|
Resultado | 81,8 | -7,7 ❌ | 62,4 👍 |
Margem Líquida | 3,2% | -0,2% | 1,9% |
⚙️ EBITDA: o motor segue firme
O EBITDA ajustado (um indicador de geração de caixa da operação) mostrou resiliência:
- R$ 425,1 milhões no 1T25, alta de 22,5% sobre 2024.
- R$ 429,6 milhões no 2T25, mantendo-se estável.
Mas a margem EBITDA caiu um pouco, mostrando que o motor está trabalhando mais pesado para gerar a mesma força.
👉 Traduzindo: a empresa continua forte em caixa, mas precisa gastar mais combustível para rodar.
EBITDA Ajustado (R$ mi) | 1T24 | 1T25 | 2T25 |
---|---|---|---|
Valor | 346,9 | 425,1 | 429,6 |
Margem | 13,7% | 13,3% | 12,8% |
📉 Dívida: a carga que pesa no caminhão
Aqui está o maior ponto de atenção. A dívida líquida mais que dobrou em um ano:
- 1T24: R$ 3,67 bilhões
- 1T25: R$ 7,98 bilhões
- 2T25: R$ 8,05 bilhões
A alavancagem (Dívida/EBITDA) saiu de 2,49x para 4,7x em apenas 12 meses. Isso porque a companhia financiou aquisições com empréstimos.
👉 É como se a empresa tivesse ampliado sua frota comprando caminhões a prazo. O problema: a parcela mensal ficou alta.
Dívida Líquida (R$ bi) | 1T24 | 4T24 | 1T25 | 2T25 |
---|---|---|---|---|
Valor | 3,67 | 4,68 | 7,98 | 8,05 |
Alavancagem | 2,49x | 2,89x | 4,94x ⚠️ | 4,70x ⚠️ |
🌍 Brasil x Exterior: duas realidades
- Brasil: o agronegócio encolheu (-40% em vendas de semirreboques), pesando sobre a vertical Montadora.
- Exterior: a estrela do semestre. As receitas internacionais quase dobraram (US$ 92 mi → US$ 184 mi no 1T25) e já representam um terço do faturamento total.
👉 Ou seja, enquanto o campo brasileiro puxou o freio, Argentina, Chile, EUA e Europa deram gás para o crescimento.
🏭 Verticais de negócio
- Autopeças: receita de R$ 988 mi (+15,5%), mas margens menores por custos de sistemas e queda em caminhões pesados.
- Controle de Movimentos: a joia do semestre, com R$ 1,33 bi em receita (+58%) e margem EBITDA de 19%.
- Montadora: sofreu com o agro, receita de R$ 833 mi (-4%) e margens apertadas (EBITDA 4,1%).
- Soluções Financeiras: cresceu 30,5% (R$ 250 mi), mas margem EBITDA caiu forte (19% vs. 28%).
- Tecnologia Avançada: instável, receita menor (R$ 42,9 mi) e EBITDA negativo por despesas não recorrentes.
📈 Mercado de capitais
- As ações RAPT4 fecharam março/25 em R$ 8,42, queda de 34,6% em 12 meses.
- O valor de mercado caiu de R$ 4,0 bi para R$ 2,7 bi.
- Em contrapartida, a empresa manteve a política de dividendos, pagando R$ 15,3 milhões relativos a 2024.
👉 O investidor na bolsa sentiu a descida da ladeira.
🌱 ESG e Governança
A Randoncorp também avançou em sustentabilidade e governança:
- Ambiental: parceria com a Gerdau para reciclagem de sucata e uso de biocombustível Be8.
- Social: 19 mil colaboradores, programas de liderança feminina e reconstrução de pontes após enchentes no RS.
- Governança: plano de sucessão do CEO Sérgio L. Carvalho, com Daniel Randon assumindo em setembro.
✨ Conclusão
O balanço da Randoncorp no 1º semestre de 2025 mostra uma empresa em expansão e diversificação, mas também carregando um peso alto de dívidas.
- 🚀 Receita cresce firme com aquisições e mercado externo.
- ⚙️ EBITDA mantém o motor da operação funcionando.
- ❌ Lucro ainda instável, afetado por custos e dívidas.
- ⚠️ Endividamento é o ponto crítico.
É como um caminhão lotado: ele segue em frente, com força no motor e estrada aberta pela frente. Mas se não aliviar a carga (dívidas) e cuidar da manutenção (margens), corre o risco de perder velocidade na subida.